Por volta de 1846, 1847, Ignaz Semmelweis, um jovem médico Húngaro, obstetra num Hospital de Viena, deparou-se com um problema importante e intrigante. No seu Hospital havia duas alas de obstetrícia, usando os mesmos materiais e métodos; numa delas, mais vocacionada para o ensino, registavam-se taxas de mortalidade neonatal por febre puerperal de cerca de 13% - na outra apenas de 2%.
Taxas tão elevadas - mesmo para a época - concorriam para o descrédito da instituição e provocavam o pânico entre as parturientes que - como é compreensível, zelando pela sua própria vida - preferiam ter os seus filhos em casa, sob os cuidados de parteiras ou
doulas (como acontecerá, ao que dizem, em S.Tirso).
Note-se que na altura a microbiologia não existia e os micróbios ou gérmenes, os humores, estavam mais relacionados com a filosofia e a religião do que propriamente com a medicina e a ciência, tal como hoje a vemos.
Semmelweis abordou a questão de várias perspectivas e formulou várias hipóteses - nenhuma delas conclusiva. Decidiu então trocar o pessoal, os da 1ª ala passariam a trabalhar na 2ª e vice-versa. A situação inverteu-se, as febres altas das parturientes acompanharam os estudantes e a morte passou a manifestar-se na 2ª ala.
Explicações é que não se encontravam, a análise das causas não produzia resultados já que os estudantes não podiam ser os culpados, pois não tinham intervenção significativa no acto de parir.
Foi então, por acaso, como muitas vezes - diz a lenda - acontece em ciência, que um episódio trágico se revelou, o
Eureka da questão: um amigo de Semmelweis, anatomo-patologista do Hospital, durante uma autópsia fere-se na mão e em poucas horas á assumido por febres altas e morre.
Um quadro clínico em tudo parecido com o das parturientes! A causa podia ser a mesma!
Observando bem percebeu que os estudantes, no fim das aulas de anatomia, lavavam as mãos sumariamente, limpavam as mãos a umas toalhas comuns pestilentas e seguiam para a ala de obstetrícia, tocando com as mãos contaminadas, várias vezes, vários, na mesma mulher.
[Felizmente na época não era a pouca vergonha dos nossos dias, senão as febres seriam comuns também entre as namoradas desses estudantes.]
Estava descoberta a higiene e a importância da lavagem das mãos na limitação das infecções nosocomiais!
Ora isto foi há mais de 200 anos!
Entretanto, eu chamei a atenção para o problema
há mais de um ano, sublinhando que um bom Hospital não se avalia apenas pelo bonito que se vê, e Correia de Campos também,
o ano passado, quando «deu um "puxão de orelhas" aos médicos e outros profissionais do hospital de São João afirmando que «muitas mãos não são lavadas» quando passam de um doente para o outro, o que resulta na enorme taxa de infecções que se registam naquele hospital».
Ninguém nos ouviu!
Caros colegas profissionais de Saúde, obriguem os vossos directores ou patrões a disponibilizar condições necessárias para atender aos apelos da
OMS, Clean Care is Safer Care, e sigam as suas
guidelines relativas à lavagem das mãos.